Dentro dos muitos modos de viver a vida religiosa, os Crúzios fazem parte dos cônegos regulares e baseiam sua vida em três pilares: a vida litúrgica conventual, a vida fraterna e a vida apostólica. O cotidiano da vida crúzia é marcado por um ritmo de oração em comum, onde os confrades se reúnem para celebrar a Liturgia das Horas e a Eucaristia de forma pública, ou seja, aberta para a participação de todo o Povo de Deus. Esse apreço pela Liturgia forma parte de nossa identidade, pois é o alimento principal de nossa espiritualidade e parte essencial da vida conventual.

Como seguidores da regra de Santo Agostinho, a vida em comum é um outro aspecto importante da nossa identidade. Vivemos como irmãos em comunidade e buscamos encontrar nessa convivência fraterna com os outros um caminho que nos aproxime de Deus. Assim, a comunidade se torna mais que um lugar onde se mora junto, um lugar onde, antes de tudo, se partilha a vida e se faz um caminho de comunhão e apoio mútuo.

Uma comunidade servidora, que em comum busca respostas às necessidades da Igreja e da sociedade. Essa é nossa maneira de compreender nosso apostolado. O trabalho pastoral e o serviço são sustentados pela comunidade. Cada confrade oferece seus dons e habilidades no serviço do anúncio da boa nova de Jesus Cristo. Deus nos impele a servir de forma especial a partir da nossa própria presença de consagrados, sendo para as pessoas um testemunho de fé. Assim, nosso trabalho pastoral não tem um foco exclusivo, mas é amplo tendo em vista os dons de cada confrade e as necessidades da Igreja local e da sociedade.

Como homens marcados pela cruz, temos nossa espiritualidade fortemente enraizada no mistério central da nossa fé Cristã, a oferta de amor de Jesus. A cruz dessa forma não é compreendida como um trauma, um sofrimento, mas antes de tudo é um sinal de doação, de amor e de esperança. Nossa missão como Crúzios é partilhar com os homens e mulheres de hoje, a alegre esperança da Cruz, a alegre esperança da vida que supera a morte.

Viver a consagração a Deus e os pilares de nosso carisma nos dias de hoje é um grande desafio, mas ao mesmo tempo um dom para a Igreja e a sociedade. Enquanto tantos se fecham no individualismo, no egoísmo, e numa religiosidade personalista, nós, Crúzios, com nosso carisma e nossa vida, convidamos a um novo olhar sobre a própria vida, reafirmando a beleza de celebrar e viver em comunidade, com a alegre esperança que brota da cruz.

A nossa tradição de oito séculos e os novos horizontes do tempo presente nos instigam a mantermos firmes na vivência de nossa vocação e carisma como o maior dom que temos a oferecer para a Igreja e para a sociedade.

“Os Crúzios são religiosos que formam uma comunidade buscando responder ao chamado de Deus, consagrando suas vidas numa vivência de fraternidade, de oração e de serviço.”

Texto publicado por Pe. Júlio Resende OSC no Jornal de Opinião Digital da Arquidiocese de Belo Horizonte.