A grosso modo, apresentamos neste ensaio, uma brevíssima reflexão sobre o “espírito da Vida Religiosa”.

O que torna o religioso sóbrio é a busca do “Único Necessário”, o Deus de Jesus Cristo que se faz presente de maneira total neste mundo e, que no mesmo instante se presta a ser buscado. “O único propósito da vida religiosa é a busca sincera de Deus” . Eis aqui o ponto central da Vida Religiosa, que traz como bojo todo o desenvolvimento da ação dos religiosos no que diz respeito ao lugar em que se encontra. Nos tempos passados e ainda hoje esse eixo central – busca de Deus – se faz presente na vida religiosa.

Sabemos que esta busca é o ponto singular a todos os homens; “mas ainda, é a única razão significativa para a vida religiosa: Deus é o conceito que não admite qualquer outro acima dele”. Contudo, todos os trabalhos realizados visando uma sociedade mais justa e digna de se viver têm uma significância fundamental. Mas o que sustenta o religioso diante tantas confusões e incertezas – é a busca de Deus. “Em qualquer situação, pronuncia Deus – e nada além de Deus” . É a busca de Deus e do seu Reino que torna a atividade religiosa verdadeiramente religiosa. “Estar imerso no pensamento de Deus é a atividade religiosa essencial”.

“Abordamos a vida ativa e contemplativa como se fossem verdades opostas e conceitos em tensão. Contudo, vida ativa e vida em clausura é que de fato são categorias opostas. A contemplação é base para as duas. Os termos clausura e contemplação, em outras palavras, não são sinônimos. A contemplação – ver como Deus vê – é exigência de todos nós. Para algumas pessoas, a clausura é o caminho da contemplação; para outras, Deus é encontrado no rosto dos pobres. Nos dois casos, a contemplação é o caminho e o fim do empreendimento” . A investigação espiritual, a busca de Deus no tempo, a construção do Reino de Deus, a atenção a Deus onde Deus está presente nas pessoas, tudo isto orienta a vida religiosa e a projeta acima dos outros objetivos da vida, por mais meritórios que sejam. A investigação espiritual não tolera compromisso com qualquer aspiração que não seja a presença sensível de Deus aqui, para estas pessoas, nesta caminhada.

No entanto, o fim último da vida Religiosa deve ser o de chegar no patamar de Deus (contemplação), para ver como Ele vê. Jesus, exemplo singular desta dimensão, via como Deus via numa profunda contemplação e ação: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” , “os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho” , “Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”.

De modo global, toda nossa Ordem é impelida a caminhar em direção do alvo fundamental da vida religiosa; destinamos a isso, para que procuremos o mistério revelado de Deus na nossa vida e dediquemo-nos ao Único que está no centro da nossa procura, isto é, viver somente para Deus.

Viver somente para Deus é a característica dos religiosos que assumem formas específicas de acordo com a manifestação diferente dos carismas, com os quais, o Espírito favorece a Igreja.

É no cotidiano do povo cristão que procura testemunhar que só Deus e seu Reino podem encher de sentido definitivo a existência humana” . Ela, a vida consagrada, é “um dom divino que a Igreja recebeu do Senhor”.

Notas
CHITTISTER, Joan. Fogo sob cinzas: uma espiritualidade da vida religiosa contemporânea.(trad: Ricardo Tescarolo). – São Paulo: Paulinas, 1998. – Coleção: Perspectivas). p. 57.
Ibid., p. 60
Ibid., p. 63
CHITTISTER, Joan. Fogo sob cinzas: uma espiritualidade…, p. 63.
Cf. Jo 4,34
Cf. Lc 7,22
Cf. Jo 17,20-21ss
Neste item, baseamos na reflexão do Relito do Capítulo Geral dos Cônegos Regulares da Ordem da Santa Cruz, do ano 2003.
MATOS, Henrique Cristiano José. Eu estarei sempre convosco. São Paulo: Paulinas; Valência, ESP: Siquem, 2006. (Coleção livros básicos de teologia; 13). P. 23.
Lumen Gentium, n. 43.

Por Pe. José Cláudio Nilton OSC